quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Graciliano Ramos é exemplo para aula de literatura sobre modernismo


Professora usa Vidas Secas e São Bernardo para explicar movimento.
Livros falam sobre problemas do país como seca, latifúndio e escravidão.



Dois livros e duas histórias: uma de pobreza e outra de riqueza. Vidas secas e São Bernardo: um retrato do Nordeste brasileiro pelo escritor Graciliano Ramos. Esse é o assunto da aula de literatura no Projeto Educação desta sexta-feira (19).
Os movimentos de vanguarda que surgiram na Europa no início do século 20, chegaram aqui de um jeito diferente: foram abrasileirados. A literatura se voltou para os problemas do país. os escritores nordestinos, por exemplo, falaram sobre a seca, o latifúndio, a escravidão.
"Raquel de Queiroz, Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo, José Américo de Almeida [...] São escritores que estão explicando para o resto do Brasil os problemas específicos do Nordeste. Aqui no Nordeste a lógica é latifúndio, monocultura, escravidão e exportação. São os pilares em cima dos quais o Nordeste se construiu", comentou a professora de literatura Flávia Suassuna.
Em 1938 Graciliano Ramos publicou Vidas Secas. O livro conta a história de uma família de retirantes do Sertão nordestino. Até hoje é considerado um dos livros mais importantes da literatura brasileira.
"Nós temos quatro personagens que são seres humanos: Fabiano e Sinhá Vitória, dois adultos sem sobrenomes. E nós temos duas crianças sem nome, o livro fala o tempo todo de o menino mais velho e o menino mais novo. Essas quatro personagens são muito sofridas, não conseguem sair da situação de pobreza em que estão, ficam andando em círculos sem conseguir escrever a história da saída dessa situação. Esses personagens eles são totalmente incapazes de se comunicar, de sonhar, de amar, de ser amado. O que é que Graciliano Ramos faz do ponto de vista da forma desse mito? Ele faz uma coisa muito criativa, ele pega uma cachorrinha chamada baleia, que é uma personagem belíssima no livro, o autor ele humaniza este animal. Essa cachorrinha ela tem todas as características humanas, ela ama, ela é amada, ela consegue se fazer entender, ela é entendida por todos os outros personagens, ela sonha e ela reparte. Tudo que gente faz no livro, quem faz é baleia", explicou Suassuna.
Neste livro, Graciliano rompe com a linearidade temporal. Cada capítulo é independente e eles podem ser lidos em qualquer ordem, desde que o primeiro e o último continuem no mesmo lugar. Essa quebra na estrutura é típica do modernismo.
"Nesse livro nós temos o que eu chamo de expressionismo à brasileira. O expressionismo que é a desumanização do homem lá na Europa pela guerra, aqui ele está sendo trabalhado do ponto de vista político e do ponto de vista climático", afirmou a professora.
Antes de publicar Vidas Secas, em 1934, Graciliano Ramos já tinha publicado outro livro importante para o modernismo brasileiro: São Bernardo.
"São Bernardo é uma fazenda, mas a grande questão do livro não é a fazenda é o dono da fazenda, que se chama Paulo Honório. Paulo Honório ele foi um rapaz muito pobre, mas ele conseguiu comprar de forma não muito honesta uma fazenda chamada São Bernardo. E isso o alçou social e economicamente", contou Flávia Suassuna.
São Bernardo é um dos livros mais expressivos do modernismo brasileiro. Ele faz uma crítica social e psicológica. O narrador, para conseguir fortuna e uma posição na sociedade, paga um preço muito alto: a quebra do seu caráter afetivo. "É um livro muito belo sobre como uma pessoa foi sonhar com coisas e se transformou naquilo com que sonhou. Então ele se coisificou", explicou a professora.
Os dois livros fazem a desconstrução dos personagens. Um pela riqueza, o outro pela pobreza. "Se os personagens de Vidas Secas são desumanizados pela pobreza, o que aconteceu foi exatamente o contrário aqui no São Bernardo, porque há uma desumanização pela riqueza. Paulo Honório ele só sonhou com coisas e aí ele virou uma coisa, ele se desumanizou. Quando a gente vai avaliar uma obra do modernismo, a gente tem que avaliar que ela se constitui a partir de um conceito novo de beleza e é exatamente isso que aparece nessas duas obras. Digamos assim, são os expressionistas, mas que trabalham o expressionismo a partir de elementos que são somente brasileiros", finalizou Suassuna.

Fonte: G1.com.br

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